Por Tarcísio Henrique Santana Lima Queiroz Oliveira
“Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, lá tenho a mulher que quero, na cama que escolherei”. Certamente, Manuel Bandeira, nesses salutares versos, deixa evidente a vontade de fuga para um país imaginário, em busca do ideal, fugindo do cenário brasileiro da década de 30/40 que acabara de despertar para um tardio processo de industrialização.
Industrialização essa que, indiscutivelmente, gera o individualismo. Adam Smith, colocando em foco a industrialização que então ocorria no continente europeu no século XVIII, afirmou ser o individualismo benéfico para a sociedade. Entretanto, Adam Smith não contava que o Mercantilismo, defendido por ele, se expandiria e se tornaria uma patologia social: o atual capitalismo narcisista. Olha-se apenas para o próprio umbigo – ou, nesse caso, para o próprio bolso -, busca-se uma ascensão econômica sem se preocupar com o próximo, exemplo típico da falta de altruísmo do século XXI. Assim, é o individualismo que, passada a gestação da fecundação no óvulo da sociedade, ’dá a luz’ a patologias sociais e psicológicas, tais como a solidão, em um globo de 7 bilhões de pessoas.
“Em Pasárgada tem tudo(...) Tem telefone automático(...),Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar”. Infelizmente, Manuel Bandeira não presenciou a explosão tecnológica do século XXI. Se a presenciasse, certamente escolheria outro lugar para fugir que não Pasárgada. Telefones celulares, internet, redes sociais, atrelados às “prostitutas bonitas para namorar” não preenchem o vazio que a solidão nos impõe. Tecnologias que facilitam a comunicação preenchem a solidão social, enquanto a solidão emocional é intensificada. A competição para ver quem possui mais seguidores em seu twitter, a sensação de ter vários amigos virtuais, e de ter a “prostituta que quiser”, fornece uma sensação de que estamos rodeados de pessoas, mas não podemos tocá-los sentimentalmente.
Portanto, é de se estranhar que Manuel Bandeira, querendo fugir do monótono, da solidão e da infelicidade, baseou-se apenas na satisfação de seus prazeres carnais. Ora, a solidão é uma lacuna que é preenchida apenas com satisfação sentimental. Assim, se foi em Pasárgada que o eu-lírico de Manuel Bandeira idealizou a sua fuga da solidão, a fuga para os “eu-líricos” do século XXI dar-se-ão para um outro local, uma sociedade primitiva, sem tecnologias de pontas e sem busca exclusiva dos prazeres carnais. Não que a tecnologia é um retrocesso, mas indubitavelmente é a pivô para diversos casos atuais de depressões relacionadas à solidão. Com isso, não me vou embora para Pasárgada; Vou-me para Nárnia!
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