Por Rafael Freire
Não foi simplesmente obra do acaso ou destino, que os portugueses desembarcaram no país em abril de 1500. Tudo é muito relativo quando se trata de improvisos. E relativamente falando, nossa identidade também é improvisada.
Somos o único país no mundo que possui uma certidão de nascimento, ao qual eu chamaria de ''carta exploratória''. Nos trechos da carta escrita por Pero Vaz de Caminha, que é considerada por muitos a ''certidão brasileira'', é evidente a intenção do autor em mostrar as belezas naturais da terra, porém com um toque tanto quanto ambicioso e exploratório.
Pero relata a postura indígena na carta, e os apresentam como uma mera mercadoria de troca e de um convencimento fácil. ''Traziam alguns deles arcos e setas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos. Bebiam alguns deles vinho; outros o não podiam beber. Mas parece-me, que se lho avezarem, o beberão de boa vontade.'' No entanto, observamos o que de fato aconteceu: ''Andavam já mais mansos e seguros entre nós, do que nós andávamos entre eles.''
O primeiro objetivo estava assegurado: conquistar a confiança dos verdadeiros donos daquela terra. Feito isso, os demais propósitos viriam com o tempo. Radicalmente dizendo, se vestiam de uma identidade falsa, passando por homens amigos, dando inicio, mesmo que nas entrelinhas, a conduta política no país. ''Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.''
E quão arrogante eram os portugueses. Talvez até então desprovidos de um pouco mais de inteligência, ou mesmo, a falta do uso do bom senso. Em uma terra, da imensidão do Brasil, andaram algumas léguas e o batizaram com o primeiro nome, Ilha de Vera Cruz. Como pode uma extensão territorial tão ampla, ser chamada de Ilha? Não é que lhes faltaram conhecimento sobre as dimensões do país, o que lhes faltaram foi prudência para afirmarem algo que até então era desconhecido.
A face política que hoje mascara o país, teve suas origens ainda no descobrimento, ao qual tudo que se vê, é apenas reflexos de tudo que se foi no passado. Em outrora, a corrupção é uma herança deixada pelos colonizadores. A essência cultural que aqui se faz, não é a mesma necessariamente falando original. Ela sofreu mudanças, como as fortes influências religiosas impostas e que são comprovadas na carta: ''Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. ''
Definitivamente falando, somos frutos de uma história improvisada, que foi massacrada diante de sua originalidade, deixando de lado a sua história real, a sua legítima identidade. Entre outras, não aconteceu aqui um descobrimento, pois na terra já haviam habitantes. O que se viu, foi nada menos que uma tentativa de povoamento. Não é preciso ser historiador para compreender os fatos, basta ter uma visão crítica e utilizar do bom senso que até então foram deixados de lado.
Não adianta tentar falar aos surdos, e nem tentar mostrar aos cegos. Os surdos entendem o que está ao seu redor. Os cegos identificam o que está a sua frente. Nossa realidade seria outra, se não fossemos corrompidos por meias verdades. Não somos portugueses, somos brasileiros.
desculpe. houve uma descoberta sim. nunca nenhum europeu descobrira esse continente. portanto,quando chegam ai os 1ºs europeus em barcos e acham-se num continente desconhecido é porque, referentemente ao mundo ocidental, eles foram os 1ºs europeus ali nesse continente. existe uma descoberta sim.
ResponderExcluir