quinta-feira, 29 de março de 2012

A história se faz nos improvisos

   Por Rafael Freire

Não foi simplesmente obra do acaso ou destino, que os portugueses desembarcaram no país em abril de 1500. Tudo é muito relativo quando se trata de improvisos. E relativamente falando, nossa identidade também é improvisada.

    Somos o único país no mundo que possui uma certidão de nascimento, ao qual eu chamaria de ''carta exploratória''. Nos trechos da carta escrita por Pero Vaz de Caminha, que é considerada por muitos a ''certidão brasileira'', é evidente a intenção do autor em mostrar as belezas naturais da terra, porém com um toque tanto quanto ambicioso e exploratório.

    Pero relata a postura indígena na carta, e os apresentam como uma mera mercadoria de troca e de um convencimento fácil. ''Traziam alguns deles arcos e setas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos. Bebiam alguns deles vinho; outros o não podiam beber. Mas parece-me, que se lho avezarem, o beberão de boa vontade.'' No entanto, observamos o que de fato aconteceu: ''Andavam já mais mansos e seguros entre nós, do que nós andávamos entre eles.''

    O primeiro objetivo estava assegurado: conquistar a confiança dos verdadeiros donos daquela terra. Feito isso, os demais propósitos viriam com o tempo. Radicalmente dizendo, se vestiam de uma identidade falsa, passando por homens amigos, dando inicio, mesmo que nas entrelinhas, a conduta política no país. ''Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.''

    E quão arrogante eram os portugueses. Talvez até então desprovidos de um pouco mais de inteligência, ou mesmo, a falta do uso do bom senso. Em uma terra, da imensidão do Brasil, andaram algumas léguas e o batizaram com o primeiro nome, Ilha de Vera Cruz. Como pode uma extensão territorial tão ampla, ser chamada de Ilha? Não é que lhes faltaram conhecimento sobre as dimensões do país, o que lhes faltaram foi prudência para afirmarem algo que até então era desconhecido.

    A face política que hoje mascara o país, teve suas origens ainda no descobrimento, ao qual tudo que se vê, é apenas reflexos de tudo que se foi no passado. Em outrora, a corrupção é uma herança deixada pelos colonizadores. A essência cultural que aqui se faz, não é a mesma necessariamente falando original. Ela sofreu mudanças, como as fortes influências religiosas impostas e que são comprovadas na carta: ''Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. ''

    Definitivamente falando, somos frutos de uma história improvisada, que foi massacrada diante de sua originalidade, deixando de lado a sua história real, a sua legítima identidade. Entre outras, não aconteceu aqui um descobrimento, pois na terra já haviam habitantes. O que se viu, foi nada menos que uma tentativa de povoamento. Não é preciso ser historiador para compreender os fatos, basta ter uma visão crítica e utilizar do bom senso que até então foram deixados de lado.

    Não adianta tentar falar aos surdos, e nem tentar mostrar aos cegos. Os surdos entendem o que está ao seu redor. Os cegos identificam o que está a sua frente. Nossa realidade seria outra, se não fossemos corrompidos por meias verdades. Não somos portugueses, somos brasileiros.

Um comentário:

  1. desculpe. houve uma descoberta sim. nunca nenhum europeu descobrira esse continente. portanto,quando chegam ai os 1ºs europeus em barcos e acham-se num continente desconhecido é porque, referentemente ao mundo ocidental, eles foram os 1ºs europeus ali nesse continente. existe uma descoberta sim.

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